Foi de pés femininos que Rondônia conseguiu sua primeira vitória na elite do futebol brasileiro. Naiane marcou duas vezes na vitória do Real Ariquemes contra o Avaí Kindermann no Campeonato Braileiro feminino Série A1, em 2023. Ainda assim, não foram pés genuinamente do estado que o feito foi alcançado, o que mostra que entre sonho e realidade, ser jogadora de futebol em Rondônia é um desafio quase intransponível de ser superado.
Essa é a situação de mulheres ao redor do mundo que encontram barreiras simplesmente por serem quem são. No esporte, essa desigualdade persiste, refletindo uma realidade alarmante. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2018, 30% das mulheres globalmente não atingiram as recomendações de atividade física, em comparação com 23% dos homens. Esses números revelam não apenas uma questão de saúde, mas também um cenário em que a participação feminina no esporte ainda luta por reconhecimento e incentivo, especialmente em regiões como Rondônia, onde essa disparidade é ainda mais acentuada.
Apesar dos avanços no reconhecimento das mulheres no esporte, muitas meninas já vivenciam desigualdades desde a infância, sem que compreendam plenamente a situação. À medida que buscam uma projeção no alto rendimento e amadurecem em sua atuação, elas começam a perceber as diferenças nas exigências entre meninos e meninas. Essa realidade se traduz em uma falta de incentivo, onde as mulheres frequentemente sentem que são menos apoiadas em sua jornada rumo ao esporte de alto rendimento. A percepção de que o esporte é um espaço predominantemente masculino faz com que as mulheres sintam a pressão de se adaptar a uma perspectiva criada para o sexo oposto.
A trajetória de Dulce Maria, ex-zagueira do Real Ariquemes, exemplifica bem esses desafios. Sua conexão com o clube começou em 2018, durante um curso de formação para técnicos da CBF, onde conheceu o professor Paulo Eduardo, responsável pela equipe feminina. No entanto, foi apenas no início de 2021 que, após várias conversas e uma investigação aprofundada sobre o projeto do Real, Dulce decidiu aceitar o convite para integrar a equipe.
Na Série A2 de 2021, Dulce participou de todas as partidas, embora a equipe tenha sido eliminada pelo ESMAC. Em 2022, ela continuou a brilhar, jogando em todos os jogos e ajudando a conquistar um acesso histórico à Série A1, após vencer o Fortaleza nas quartas de final. Apesar de a equipe ter sido eliminada nas semifinais por outro clube cearense, o Ceará, A zagueira fez história ao contabilizar 12 jogos na Série A2, com 1 gol marcado, além de 2 partidas no Campeonato Rondoniense, representando a camisa do Furacão do Jamari.
A falta de apoio e de estrutura adequada é um grande obstáculo para as jogadoras de Rondônia. Sem um campeonato organizado e com pouca visibilidade, fica difícil termos as oportunidades que merecemos. Precisamos de mais investimento e reconhecimento para que o futebol feminino possa realmente crescer e florescer na nossa região – ressalta.
Em Rondônia, a desvalorização do esporte feminino não é diferente do que se observa em outras partes do Brasil. Apesar do Real Ariquemes feminino ter sido a única equipe rondoniense a integrar a elite do futebol brasileiro, a falta de apoio e investimento adequado ainda resulta em uma realidade desafiadora para as atletas locais. As jogadoras enfrentam uma escassez de infraestrutura, competições organizadas e incentivos, o que limita suas oportunidades de crescimento e visibilidade. Muitas delas se vêem forçadas a abandonar suas carreiras esportivas devido à ausência de reconhecimento e suporte, perpetuando a desigualdade de gênero e comprometendo o desenvolvimento do futebol feminino na região. Além disso, a falta de engajamento da comunidade e o desinteresse por parte das instituições contribuem para um ciclo vicioso de desvalorização, evidenciando a necessidade urgente de ações que promovam a igualdade e valorizem as atletas em Rondônia.
Nesse contexto, o desinteresse da federação e do público em relação ao campeonato feminino se torna ainda mais alarmante. A ausência da publicação do borderô do campeonato do ano passado é um sinal claro do descaso da entidade com a competição, demonstrando falta de transparência e comprometimento em relação ao esporte. Essa omissão não apenas prejudica a organização do torneio, mas também desmotiva as jogadoras e equipes que buscam reconhecimento em um ambiente já hostil. Sem informações claras e acessíveis sobre o campeonato, é difícil atrair patrocinadores e mobilizar o público, perpetuando a invisibilidade do futebol feminino no estado.
O sonho de Karen Vanessa, de 23 anos, sempre foi viajar e conhecer diferentes estados e cidades por meio do esporte, uma paixão cultivada desde a infância, incentivada por seu pai, que a levava para jogar com ele e seus amigos. No entanto, sua trajetória como jogadora foi marcada por desafios significativos. A falta de incentivo e investimento no esporte feminino se manifestou em sua vida de maneira contundente, já que, na época, não havia projetos voltados para o futebol ou futsal, apenas escolinhas particulares que atendiam apenas meninos. A necessidade de pagar por uma escolinha distante não apenas limitava seu acesso ao esporte, mas também trouxe dificuldades financeiras, obrigando-a a gastar com locomoção. Embora seu pai tenha sido uma figura inspiradora e presente até sua morte, aos 15 anos, a falta de apoio financeiro e emocional afetou sua jornada. Karen conseguiu realizar parte do seu sonho ao ingressar na faculdade e representar a seleção da instituição, mas a experiência de viajar e conhecer novos lugares por meio do esporte permaneceu como um desejo não totalmente realizado, refletindo a urgência de mais investimentos e oportunidades para as atletas em sua região.
– Meu maior desejo sempre foi explorar novos lugares por meio do esporte, inspirado pelo incentivo do meu pai, que me levou a jogar desde pequena, mas a falta de investimento e apoio no futebol feminino fez com que eu enfrentasse muitos obstáculos ao longo do caminho – destacou.
As histórias de Dulce Maria e Karen Vanessa revelam um retrato comum da desvalorização do esporte feminino em Rondônia, onde os sonhos e aspirações das atletas são frequentemente frustrados pela falta de apoio e infraestrutura. Dulce, ex-zagueira do Real Ariquemes, destaca as desigualdades enfrentadas pelas jogadoras em relação ao suporte e à organização das competições. Apesar de ter feito história ao ajudar sua equipe a conquistar um acesso à Série A1, ela testemunhou as dificuldades que outras equipes enfrentam em termos de recursos e oportunidades. Da mesma forma, Karen sonhava em conhecer novos estados e cidades por meio do esporte, impulsionada pelo apoio de seu pai. No entanto, a ausência de investimento e a falta de projetos voltados para o futebol feminino a deixaram sem opções, forçando-a a lidar com a realidade de ter que pagar por escolinhas particulares, que estavam distantes e inviáveis financeiramente.
A luta pela valorização do futebol feminino em Rondônia é apenas uma parte de um movimento maior por igualdade de gênero no esporte. À medida que as jogadoras e suas histórias ganham visibilidade, a esperança é que a sociedade comece a reconhecer seu valor e a importância de investir em um futuro mais igualitário. Afinal, o esporte deve ser um espaço de inclusão e reconhecimento para todos, independentemente de gênero.
Apesar do potencial das mulheres da região, as oportunidades para as jogadoras de futebol são limitadas em Rondônia. Em um estado com clima quente, onde o esporte é tradicionalmente dominado por homens, a realidade para as mulheres é marcada pela falta de campos adequados para treinos, infraestrutura precária e, muitas vezes, a pouca quantidade de técnicos qualificados.
A escassez de torneios e campeonatos estaduais diminui as chances das jovens de mostrar seu talento. Em muitos casos, as atletas precisam se deslocar para outros estados em busca de oportunidades. Além disso, os poucos clubes locais ainda não contam com estruturas adequadas para fomentar o desenvolvimento do futebol feminino, o que leva muitas jogadoras a abandonar seus sonhos, diante da falta de perspectiva profissional.
O futebol feminino em Rondônia ainda carrega as cicatrizes de uma luta histórica e, ao mesmo tempo, o brilho de uma paixão que não se apaga, por mais que o cenário enfrente desafios. A trajetória de muitas atletas rondonienses, como a de uma mulher que começou sua jornada aos 12 anos em um simples campinho de areia, é marcada por sonhos que transcendem as dificuldades e as adversidades do caminho.
Com a bola nos pés e um gol pela frente, a jovem zagueira rondoniense Nenê começou a escrever sua história nos campos. O que antes era apenas uma paixão ganhou novos contornos quando recebeu o convite para integrar o time do Palácio dos Esportes. Ali, o futebol deixou de ser apenas um passatempo e se transformou em um verdadeiro aprendizado tático, com fundamentos, estratégia e disciplina. Seu talento, lapidado no calor das partidas, logo a levou à Seleção Rondoniense, em 1993, para disputar a Taça Brasil – um torneio ainda carente de estrutura para o futebol feminino, mas que se tornaria o palco onde Nenê brilharia com toda a sua garra.
Ali, em meio a poucas condições, Nenê fez o que muitos consideram impossível: ao lado de outras mulheres, levou a sua paixão ao limite, foi convidada para jogar no Saad, um dos clubes mais renomados do país na época, e seis meses depois, estava vestindo a camisa da Seleção Brasileira. Mas sua jornada, longe de ser um conto de fadas, foi um mergulho profundo em um universo onde as mulheres eram minoria e sua luta para conquistar espaço era diária.
“Fui convidada a participar do time do Saad, um dos times mais conceituados no futebol feminino na época e o único que recebia atletas de todos os locais do Brasil para atuar como jogadora profissional. O time pagava uma ajuda de custo e mantinha na casa mais de trinta atletas com o sonho de chegar na Seleção Brasileira e foi em busca desse sonho que eu aceitei a jogar no Saad, clube de São Paulo”, disse a ex-zagueira.
Nenê relata quão árduo era o caminho das mulheres no futebol. Segundo ela, toda a temporada se resumia a apenas dois finais de semana. As melhores equipes se reuniam em uma cidade para disputar a Taça Brasil, um torneio que mais parecia um sopro de oportunidade em meio a um cenário de poucas chances. Foi na quarta edição desse campeonato que Nenê viveu um momento inesquecível: num lance de ousadia e precisão, arriscou de longe e balançou as redes do poderoso Saad, marcando um gol que mudaria sua trajetória para sempre. O talento falou mais alto, e o convite para defender o próprio Saad veio como um passe certeiro do destino. Apenas seis meses depois, já a Amarelinha era realidade.
O sonho da ex-zagueira levou à São Paulo, como atravessar um portal rumo ao desconhecido, onde cada passo carregava o peso da incerteza, mas vontade de jogar futebol. A possibilidade de disputar num grande centro era mais do que uma mudança de cidade – era oportunidade de se provar que era capaz e que mulheres também podiam dominar a bola com elegância e paixão. Mas os primeiros dias foram duros, como um jogo debaixo de chuva em campo pesado. Não havia glamour, nem facilidade. O futebol feminino era um território árido, onde as jogadoras tinham que driblar não só as adversárias, mas também a falta de estrutura. Faltavam materiais, condições de treino, salários dignos, espaço na mídia. E, mais que tudo, faltava respeito.
Nenê relata que entrar em campo significava, muitas vezes, escutar palavras que machucavam mais que qualquer dividida forte. O futebol era visto como um domínio masculino, e mulheres que ousavam jogá-lo eram rotuladas, encaixadas em estereótipos rasos e injustos. Como se talento tivesse gênero, como se paixão pelo esporte precisasse de permissão. Mas a bola não escolhe quem a trata bem. Dentro das quatro linhas, não há rótulos, apenas o jogo.
“Todos sabem que a cultura do nosso país associa muito uma modalidade ao sexismo, né? Então vamos dizer, o futebol é pra homem. A mulher que jogava não podia porque era um esporte masculino, assim como o vôlei quando se destacava para jogar era associado a sexualidade dele, o que não tem nada a ver. Falando bem claro, a mulher jogando bola era ‘sapatão’ ou ‘mulher-homem’. Enquanto o cara que jogava vôlei era ‘viado’. As pessoas gostam de associar esse tipo de coisa, sendo que não é verdade, não é verídico. Não importa a sua sexualidade, o importante no esporte é o seu talento, a sua qualidade, é o que você acredita, é o esporte que demonstra o real do que é a personalidade de cada atleta”, afirmou em tom claro.
A ex-zagueira rondoniense Nenê criticou a falta de estrutura e investimentos no futebol feminino em Rondônia, afirmando que a modalidade ainda é tratada pior que o amador. Segundo ela, apesar do crescimento do Real Ariquemes, o Porto Velho foi pioneiro ao garantir vaga na Série A2 e abrir caminho para outras equipes. Nenê ressaltou a necessidade de mais apoio e igualdade na modalidade: “Por que não tratar o futebol feminino com a mesma estrutura do masculino, se é o mesmo esporte?”, disse
Enquanto em outras regiões do país projetos sociais impulsionam o futebol feminino e oferecem oportunidades para jovens atletas, em Rondônia a realidade é diferente. A ex-zagueira da Seleção Brasileira, Nenê, critica a ausência de políticas públicas voltadas para a modalidade e denuncia o descaso do poder público com o esporte feminino no estado.
“Conheço vários projetos sociais que existem, mas não aqui em Porto Velho. Eu acompanho e fico feliz de ver companheiras minhas que jogaram comigo na Seleção hoje trabalham em prol de um futebol mais forte, mais acessível, mais incluso, algo que não acontece na nossa cidade ou no estado”, afirma Nenê. Segundo ela, a Secretaria Estadual de Esportes nunca organizou sequer um torneio para as mulheres, e não há investimento na formação de novas atletas.
A ex-jogadora aponta que a infraestrutura esportiva da capital poderia ser aproveitada para fortalecer o futebol feminino, mas os complexos poliesportivos estão abandonados. “Estão cheios de mato, de drogas, o tráfico tomando conta das praças esportivas”, denuncia. Para ela, bastaria o interesse do governo ou da prefeitura para transformar esses espaços em centros de formação para meninas que sonham com uma carreira no esporte.
Além da falta de incentivo, Nenê alerta para o impacto social dessa ausência de políticas públicas. Ela lembra que, em sua infância, jogava futebol nas ruas e sonhava em um dia vestir a camisa da Seleção. Hoje, as crianças não têm mais esse espaço, trocando a bola pelo celular ou pelos videogames. “Imagina quantas crianças não gostariam de ter o mesmo sonho, o mesmo direito, as mesmas condições e a mesma oportunidade de um dia saber pelo menos o fundamento de uma modalidade?”, questiona.
Para a ex-zagueira, a falta de investimento no futebol feminino e na base reflete o abandono de um potencial esportivo que poderia colocar Rondônia no mapa do futebol nacional. “Somos considerados o país do futebol, mas estamos esquecendo nossos talentos, que estão perdidos na periferia, enquanto as praças esportivas seguem sem qualquer apoio”, concluiu.
O futebol sempre foi mais que um esporte, mais que um jogo de 90 minutos. Para alguns, ele é um destino traçado na poeira dos campinhos improvisados, nos pés descalços que correm atrás de um sonho quase impossível. Para uma ex-jogadora que desbravou os caminhos do futebol feminino, a maior conquista não foi apenas vestir a camisa da Seleção Brasileira, mas abrir portas para que outras pudessem sonhar também.
Ela viveu a incerteza de um tempo em que o futebol feminino foi esquecido, em que não havia salários, nem estrutura, nem mesmo um olhar de respeito para as mulheres que ousavam desafiar as regras invisíveis do preconceito. Sobreviveu a um esporte que, por anos, desistiu delas. Viu colegas desistirem por falta de apoio, testemunhou histórias interrompidas pela necessidade, pela falta de um simples absorvente ou de um prato de comida. Mas nunca deixou de acreditar.
O tempo passou e algumas coisas mudaram. Hoje, nos grandes clubes, as jogadoras têm alojamento, material esportivo, salários pagos em dia. Mas a realidade na região Norte segue distante dessa evolução. Ali, muitas jogadoras ainda acumulam funções: jogam, lavam os próprios uniformes, preparam suas refeições. Lutam não apenas contra adversárias dentro de campo, mas contra um sistema que insiste em torná-las invisíveis.
Ainda assim, a esperança permanece. O desejo de ver uma nova geração conquistar o que tantas lutaram para alcançar pulsa forte em seu coração. “No dia em que eu morrer, vai estar escrito que eu quero ter vida para ver uma atleta sair daqui de Rondônia, passar por onde eu passei em grandes clubes, vestir a camisa da Seleção Brasileira e permanecer, assim como eu permaneci”, declara.
Porque mais do que a glória de um título ou a emoção de um gol, o verdadeiro triunfo é saber que um caminho foi aberto para que outras possam atravessá-lo. Ela quer estar viva para aplaudir essa conquista, para ver com seus próprios olhos que os sonhos que um dia pareciam inalcançáveis agora são realidade.
E quando esse dia chegar, talvez o futebol feminino finalmente tenha feito justiça a todas aquelas que, antes de qualquer reconhecimento, jogaram apenas por amor.
Mesmo em um cenário tão desafiador, histórias de mulheres que lutam pelo futebol profissional na Amazônia se destacam, provando que o amor ao esporte pode superar barreiras enormes. A trajetória de Millene Fernandes é um exemplo claro disso.
Millene, natural de Cacoal, cidade do interior de Rondônia, começou sua caminhada no futebol aos 10 anos, em um projeto de escolinha de futebol. Inicialmente, ela foi a única menina entre os meninos, mas seu talento se destacou rapidamente. Ela, que sempre foi apaixonada pelo esporte, decidiu enfrentar o preconceito e seguir seu sonho, mesmo sabendo das dificuldades de ser mulher e jogar futebol em um cenário dominado por homens. A jornada não foi fácil, mas sua persistência a levou a ser convocada para a Seleção Brasileira de Futebol Sub-20 e a jogar em times de renome, como Atlético Mineiro e São Paulo.
“No começo, era complicado, porque o futebol é um esporte de homens, e ser mulher nesse meio é algo desafiador. Mas eu amava o que fazia, e isso sempre foi mais forte que qualquer obstáculo”, já afirmou em entrevistas Millene, agora referência para as meninas da região.
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Outro exemplo inspirador é o de Lorena Filipin, natural de Porto Velho. Desde muito jovem, Lorena sonhou em ser jogadora profissional. Porém, uma série de lesões a fez mudar de trajetória, redirecionando seu amor pelo futebol para a fisioterapia esportiva. Mesmo sem realizar seu sonho de jogar, Lorena encontrou uma nova forma de contribuir para o futebol feminino, atuando como fisioterapeuta no Real Ariquemes, clube tradicional do estado. Ela é hoje uma das profissionais mais respeitadas no esporte local e ainda acompanha de perto o desenvolvimento das jovens jogadoras.
“Quando não conseguimos alcançar nosso sonho como jogadora, temos que encontrar outras formas de contribuir com o esporte. O futebol me deu tanto, e hoje, posso dar de volta o que aprendi ao apoiar essas atletas no processo de recuperação e desenvolvimento”, afirma Lorena.
Se por um lado Rondônia tem se esforçado para avançar, por outro, estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais já possuem uma estrutura muito mais consolidada para o futebol feminino. Esses estados contam com federações que promovem campeonatos estaduais de alto nível, clubes com categorias de base estruturadas e centros de treinamento especializados para mulheres.
Em São Paulo, por exemplo, clubes como Corinthians e Palmeiras possuem uma infraestrutura de ponta para o desenvolvimento de jogadoras. Além disso, o campeonato estadual conta com times e jogadoras de renome, o que aumenta ainda mais as perspectivas de carreiras para as meninas que optam pelo futebol.
Em contraste, na Amazônia, o apoio a novos talentos ainda é escasso, com poucas iniciativas que investem no desenvolvimento de jogadoras. O futebol feminino na região sofre com a falta de visibilidade e apoio financeiro, o que dificulta o surgimento de atletas de elite.
“Enquanto em outros estados as meninas têm acesso a treinamentos de qualidade e competições relevantes, na Amazônia, de modo geral, muitas vezes, as jogadoras têm que lutar por visibilidade”, diz a jornalista esportiva paraense Syanne Neno. As condições para treinar e competir são bem diferentes.
A longo prazo, o futebol feminino em Rondônia tem grande potencial, mas precisa de um investimento maciço em infraestrutura, formação de técnicos, criação de torneios e, especialmente, apoio institucional. A busca por mais espaço nas competições regionais e nacionais pode ser o primeiro passo para garantir que mais mulheres sigam os passos de Millene e Lorena.
“Precisamos tratar com mais preciosidade o futebol feminino, dar condições dentro de campo, fora de campo dar condições financeiras e tratar o futebol feminino como se trata o masculino porque eles se dedicam exclusivamente em jogar futebol, o período de descanso deles estão fazendo academia, trabalhando a mente, porque tem toda uma estrutura em cima do masculino. Por que não faz o mesmo com o feminino? Qual a diferença entre as modalidades se é um único esporte?”, conclui Nenê.
Embora os desafios sejam enormes, o futebol feminino no estado de Rondônia e na Amazônia como um todo possui grandes perspectivas de crescimento. O desenvolvimento das jogadoras depende da criação de uma base sólida de apoio, e, ao que tudo indica, o futuro poderá ser mais promissor para essas mulheres apaixonadas pelo esporte.